quarta-feira, 15 de abril de 2009

Mural do Dia



Sol a pino
No mural do dia...

Suor pinga dos telhados
E molha os lembretes,
Os bilhetes de amor
Neste painel de recados.

Sol a pino
Segura o mundo pela beiradinha
Sem laço, sem tacha, sem bainha.

Mormaço racha a cortiça
E o cortiço se atiça suado
Mas tem preguiça
De pintar o astro dourado
De azul enluarado.

(No calor ninguém tem pudor
E não pecar fica sendo o maior pecado)

Até que um albino
Torturado
Decide tirar o sol alpino
Desse mural de pecados

Cuidado!

...

Agora podem despregar o céu estrelado
Enrolar e botar em cima do caminhão
Quando o pino do sol a pino foi descravado
Caiu-se do mundo o mural
E não sobrou na parede chão sobre chão.

# #

22 comentários:

Sidnei Olivio disse...

Fiquei impressionado, Tenório. Não ouso comentar um poema desses... quisera tê-lo escrito.

Luis Cláudio disse...

Caro poeta, concordo com o Sidnei, não consigo acreditar num poema tão genial! Não posso crer!

Extraordinário, fera.

Benny Franklin disse...

Muito bom, Tenório!

Felipe Vasconcelos disse...

Nossa, Tenório,
Que lindo esse! Você pode satisfazer uma obsessão minha? Esse poema vem de uma circunstância real? Esse mural existiu? O Ferreita Gullar diz que seus melhores poemas são aqueles para os quais a "vida contribuiu". Desde então fico perguntando isso para todos os poetas que tenho acesso.
Abração!

Adriana Godoy disse...

Que delícia de poema. A gente come com os olhos e as imagens ficam, como se fossem um mural na cabeça. Acertou, Tenório. Beleza e criatividade em perfeita harmonia. Abraço.

Débora Almeida disse...

Genial! Parabéns, cara!!!! Muito, muito bom!!

Renata de Aragão Lopes disse...

Você muito foi feliz ao escolher cada palavra!

Marcelo Dias disse...

Bravô, Tenório! Bravíssimo!

Rebeca disse...

Faz tempo não leio poema tão bom! Parabéns, de verdade.

Flávio Rocha disse...

Muito bem estruturado e desenvolvido. Poema que se resolve brilhantemente no jogo das palavras. Parabéns.

Tião Martins disse...

Grande Tenório!

Tirou a poesia do varal, meteu no mural e matou a pau!

Niterói está em festa... rsrsrsrs.

Abraço e parabéns!

Beatriz disse...

Sol a pino - hora das sombras curtas (Benjamin) e vc em rima graciosa veio desvairando o verso e mostrando imagens bem tecida num varal lindo

Fábio Leão disse...

Meu Deus, amigo! Um show de poema, deslumbrante, colorido! Muitíssimo bom!!

Aline F. disse...

O delírio do mural estar no mundo e o mundo num mural, toda a carpintaria bem bolada, desenha ora no campo da representação ora no campo da vida real, é um primor. Excelente, amigo!

Tenório disse...

Grande Felipe!

Vi seu comentário aí acima e muito agradeço. Sobre sua pergunta, vou te falar a verdade: pura imaginação. Em casa mesmo, pensando nessa coisa da vida ser um grande mural, de viajar na ideia do sol ser o 'prego' que segura o mundo, se a gente soltá-lo, cai tudo, rs. Sei lá. Quer dizer, posso afirmar que foi na vida sim, na observação da natureza que busquei essa inspiração.

Grande abraço, poeta!!

Benilton Cruz disse...

Excente poema! Parabéns!

Mariana Ferreira disse...

Lindo este poema, deslumbrante, criativo, tudo de bom! Parabéns a ti e todos os poetas desse espaço belíssimo.

Felipe Vasconcelos disse...

Obrigado, Tenório, pela resposta.
Eu podia jurar que a imagem de um sol de algum mural em algum lugar foi arrancado e o inspirou, o que demonstra a força com que você deu voz à sua imaginação.
Quanto mais leio, mais gosto.
Grande abraço!

Tenório disse...

Ei, Felipe, muito obrigado por essa atenção, mesmo. Só pra completar, por exemplo, a imagem do mural, é uma colagem que eu fiz, inclusive tem foto da minha esposa quando criança e um monte de referência. Na verdade, sejamos sinceros, é uma montagem tosca, amadora, mas enfim, foi a vontade de ver concretizado esse mural com o sol segurando todos os retalhos.

Novamente, te agradeço pelo interesse!

Abração

Felipe Vasconcelos disse...

Ô Tenório,
O mural é uma colagem sua? Que legal! Tá muito pequena a foto, eu queria ler aqueles bilhetinhos. Não dá para colocar uma maior?
Abração!

Silvia disse...

Extraordinária criatividade, colega. Um poema que vai longe!

Silvia

Felipe Costa Marques disse...

"Segura o mundo pela beiradinha"

tuas palavras desenham

belo texto