terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ressaca


gosto amargo de azeitona e berinjela
mais um travo de desejo amarfanhado
meio copo de cerveja sobre a mesa
cheiro acre de fumaça de cigarro.
para além de tudo aquilo paira ela
boca seca amanhecido olhar parado
tão afeita à solidão e à incerteza
enojada de seu corpo e o que é bizarro
masturbando-se à janela de manhã
a fitá-lo adormecido abandonado
entre os restos de comida no tapete
e o cachorro aconchegado no divã.
vomitou pouco depois de haver gozado
e rendeu-se ao abandono das paredes.


Márcia Maia

11 comentários:

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Excepcional! Uma solidão.

Felipe Vasconcelos disse...

Bravo, Márcia! Genial seu soneto!

Tomaz disse...

Lindo!
Identifico-me bastante com o tema (ressaca/solidão), e abordou isso de forma magnífica.
Abraço.

Daniel Braga disse...

Inquietante e belo!

Renata de Aragão Lopes disse...

Fabuloso!

Adriana Godoy disse...

Instigante, poético, triste.

Anônimo disse...

Simplesmente sensacional.

rogerio santos disse...

Márcia é faca afiada...
Sensacional...

Beatriz disse...

É a ressaca da ressaca. Bizarra janela de poesia na janela do dia.

Assis de Mello disse...

Genial, Márcia !!
Mas que situação hem...
Gozar de ressaca é bem surreal.
Se eu tivesse que escolher, queria ser o cachorro no divã... rsss

Barone disse...

Muito bom Márcia!