quinta-feira, 8 de novembro de 2012

VIVER MENINO, MORRER POETA




A poesia agarrou minhas mãos, de tal forma que ela parece um carrapato no lombo de um animal. Nós dois [eu e a poesia] agarramo-nos um no outro, eu nela, ela em mim, tal qual agarrados andam e vivem um casal de loucos apaixonados, apaixonados loucos.
Não sei onde dará isto, este ‘nheco nheco’ todo, mas é assim que tenho andado, agarrado à poesia, mesmo que eu ache uma bela duma loucura e em alguns momentos uma grande bobagem, viagem sem destino, passagem sem volta.
Uma linha fina divide o menino que carrego dentro de mim e o poeta que cismo ser, assim como a vida que levo e a morte que me espreita ao fim de cada verso despejado.
Sempre achei que a poesia ilumina cada minuto de nossos dias. Nunca imaginei tê-la tão presente em minha alma e em tudo que sou. O que me emociona tanto, vez ou outra incomoda, a mim mesmo, mais que o normal.
Abro asas, vou voar e no meio do voo descubro que não há asa alguma. Vejo o invisível bater à minha porta e acabo não me incomodando, mas quando o invisível cisma de bater na minha aorta, aí é que o bicho me pega. 
É assim que eu descubro de onde nascem as lágrimas salgadas que descem silenciosamente no meu rosto. [lembro que alguém me disse que homem não chora – eu sempre volto a ser criança].
Na gaveta da memória, uma tonelada e meia de sentimentos, um cansaço tão grande, uma briga boa e sem fim entre o ‘viver menino’ versus o ‘morrer poeta’...
[ CleberCamargoRodrigues ] 
[ foto (c) CleberCR/Gaveta da Memória ]

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