segunda-feira, 6 de agosto de 2012

as sete faces da noite

1. bateu incerto o relógio (doze vezes) as horas certas do alto de uma igreja ignota. uma igreja erguida (agora) apenas em recordações.

2. numa rua qualquer desce lenta a noite. quente. vadia. um bar do outro lado. o chope gelado. um cigarro mal tragado. um poste sem luz. um bêbado sentado. mijado. rogando blasfêmias. sinal fechado. a vida na boca rasgada. no verbo furado. solto no ar.

3. no lado de lá um andar bem ligeiro. o apito noturno do guarda. um asilo de velhos. uma criança abandonada. um sistema arruinado.

4. na esquina um sobe e desce correndo. um estouro perdido no vácuo da noite. um crime premeditado. um cheiro de choro. de sangue. a vida (em tese) morrendo.

5. do outro lado do lado de lá: só a noite. escura e fria. versando a vida no enigma das casas. na sutileza de um segredo.

6. as ruas desertas: meu degredo! devo versar o segredo da noite? as ruas desertas... as palavras se perdem em grifos inexatos sobre os muros brancos entre o medo e a mudez na insólita sensação do irreparável.

7. sem a lua que me guie: caminho. a noite insiste teimosa. a insônia insiste teimosa. a solidão (inclusive).

sidnei olivio

Um comentário:

Amarildo Ferreira disse...

Intenso como todas as noites de minha vida de falso boêmio!!!!