quinta-feira, 19 de julho de 2012

Insônia


Eu vou levando a vida
até a última gota
até o último gole
dessa cachaça amarga.

Vou a desagrado
aos sonhos de outrem
aos meus próprios
moldando-me nesta amálgama.

Vou transbordando incoerência
fadiga e insônia
em conflitos tão meus!
Não canto nenhum canto
que encante quem ouve,
embora grite bem alto
para que as estruturas metálicas
percam a frialdade
e não mais me envolvam
de poeira e pó e fuligens.

Vou entediado e sem remédio
para elevar o ânimo;
para descobrir caminhos,
para transformar espinhos em sonhos.

Vou pequeno quando grande
sou maior que o mundo
e menor que o coração palpitante
de um recém-nascido;
vou prosseguindo em minhas algemas,
desconstruindo e destransformando.
Sou singular e assim prossigo
numa pluralidade descontente;
só preciso de uma nota musical
para definir minha canção.

E alguém diz friamente:
__ Tenha dó!




*** Poema do livro Itinerário Fragmentado (Quártica Premium, 2009)

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