sábado, 19 de maio de 2012

Roda viva

Sinto nesses campos de hoje em dia, moinhos e caminhos destroçando versos de uma colheita fora de época, na qual se tenta separar o jôio do trigo. Num sopro, ainda me tem em meus sentidos, a bonita impressão de ser a palavra, uma entidade viva e ativa nessa lavoura que tece sementes como quem traça des(a)tinos imutáveis nas linhas das mãos.

Se é vento o homem que sopra seu próprio destino, como dizer então dos traçados impostos e que nos cercam quando tentamos nos desviar das curvas, das amarras nos tornozelos, das ilusões dos nossos próprios delírios oculares?

Sinto meu oásis nesse deserto de opções e ainda assim, como quem guarda uma carta na manga, guardo um tesouro que dita o meu próprio amanhã, num garimpo de beiras e beiradas sem passos e sem chegada. Só para amanhã de manhã.

Será que despenco diante dos olhos, naquela minha distração breve, de cílios e de tempo?
[Samara Bassi]

Um comentário:

Marcio JR disse...

Nem sempre a melhor distância entre dois pontos é uma reta. Pode ser a menor, mas não a melhor. A melhor vem do desejo que se tem em andar sem destino nem tino.

O vento-homem sopra arestas breves nos cílios, sutilmente chegando ao pé da orelha, arrepiando num breve suspiro. A palavra? Essa acompanha o sopro, nem sempre o arrepio (não dá tempo de pensar em palavras nessa hora), mas sempre acompanha o sopro.

Teus moinhos giram ao contrário quando o coração tece a palavra saudade. E se ela, a saudade prevalece, é porque você me viu lá, naquele lado de muito mais pra lá. Me busca. Me tece em palavras e arrepios. Deixa os cílios se tocarem e os olhos fecharem. Garimpa, então, um espaço vão em um coração já meio seco, e destila dele a mais pura cachaça da alma.

Amizade é uma palavra acima de qualquer aroma e sentimento. Amizade é algo que deixa um sentimento muito maior que saudade.

Saaaaaaaaaammm. Que lindo. Amei.

Te adoro, mocinha. Bjsss.

Marcio