quinta-feira, 19 de abril de 2012

Fragmentos da Revolução


Neruda y Matilde



Lia os “Últimos Poemas” de Neruda.
O quarto ao lado sussurrava revoluções.

Deixei minha flâmula atrás da porta;
lavei as mãos sujas de sangue
recolhendo-me à rotina.

Hoje a poeira e a fumaça industrial
tomam conta de meus ideais;
não conheço os homens;
me desconstruo.
Minha criatividade se perde
entre as estruturas metálicas
que se ergueram dia-a-dia.

Vou comendo o pão envelhecido
acompanhado de uma “Coca” em lata
que comprei mecanicamente;
é como o óleo que lubrifica
as máquinas:
vou seguindo robotizado
de cabeça baixa.
Vou matando em meu íntimo
os resquícios da poesia existente,
as leituras de poemas
vão ficando cansativas.
Prossigo insatisfeito 
em padrões disformes,
metido em uniformes indigestos.

Olho para a porta da Fábrica
sonhando descavernar-me,
desalienar-me.
Lá fora homens murmuram frases prontas
que definem este meu olhar como insano;
vou me perdendo
me prendendo à certeza de me perder.

Volto aos Poemas de Neruda
desavisado não o creio comunista.
O quarto ao lado se cala,
acostumou-se ao sistema!

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