poder ser música
a voz do mar no búzio é eco
nas voltas do ouvido
numa espiral
polida
até deixar
uma impressão
limpa até ao osso oco
até ao osso oco
duma flauta que viva andou
num corpo onde foi
talvez perna
com
carne e músculos
antes de poder ser música!
sons com o som
dou-me a este cuidado
feito da maior atenção
com que procuro sons
no som que ecoa vivo
– interior imaginado!
(onde o osso mora
vivendo na perna)
vivendo na perna)
10 comentários:
"Sons com(o) som" é uma composição, dentro da perspetiva da 'poesia plástica', onde procuro introduzir na composição a polissemia acentuada pelo uso da pontuação que permite a 'desmultiplicação': sons como som/ sons com som.
Quanto à temática, também ela é 'polissémica', procurando variar e retirar sentido dos sentidos (da vida)! Procura na música um referencial, a vida é metaforizada, para se situar - entre a realidade e o tudo - também inclui o nada.
A_braços!!
francisco,
interessante é, depois de perceber por minha conta, como leitora, imagens para o verso, perceber a imagem que você-autor desejou dar ao verso.
sem a intervenção de você-autor, o verso se construiu em imagens de mar e de fundo de mar, vi os ossos ganhando lirismo - só o mar torna possível beleza na matéria morta. a morte no mar é encoberta por seres que colorem a degradação. um osso no mar é de tal forma límpido que se presta mesmo a ser flauta.- vi o ciclo perpétuo de começo-meio-fim-começo, que só cabe em poesia.
quando leio o teu comentário, percebo que não perdi nada da nascente do verso, mesmo não consciente da temática ou da intenção de ''desmultiplicação'', o verso me chegou composto por imagens que deixam transparecer em plasticidade e riqueza os tons que você desejou. são sentidos para as palavras e sentidos para a temática e ambos são ''sentidos'' por quem vier ler, de forma que a sua composição se torna bem sucedida, atingindo o ponto onde você ''tramou'' que ela nos atingisse. parabéns!
um beijo!
Ver(s)os…
«se construiu em imagens de mar e de fundo de mar»
«vi o ciclo perpétuo de começo-meio-fim-começo»
Lei(o)…
«o ponto onde você ''tramou'' que ela nos atingisse»
Amiga,
A_MEI-O!
deixei-me atingir
a meio da noite
pelo comentário
:)
Obrigado! Beijos ***
muito bom meu caro, construção, transformação e reciclável, como ñ ser poético sendo musical ao findar.
ns
escotilha,
Estive olhando no navio...
«
VERSOS TRANSPARENTES
Adormeci no paredão, sentindo o calor do Sol, ouvindo o marulhar das ondas essa voz do mar. Afoguei-me nos sonhos, nessa beira-mar entre realidade e evasão, invado-me de prosa, deixo-a, no silêncio de versos transparentes...
Bom Domino! * :)
»
Noslen,
Agradeço seu comentário, “É musica… para meus ouvidos”!
A_braços!!
à margem da lagoa
casal de flamingos rosas
estão bem vestidos...
tudo é música
silêncio é música
até a ANTI é
Francisco... são versos tocantes, profundos, cheios de verdade... essa verdade que sopra por aí e vai bater e morrer num paredão dos Açores...
Tem melodia ? (pq tem jeito de canção)
Luis Gustavo,
Grato por um comentário tão poético!
Henrique,
Sempre precisos/preciosos teus comentários!
Rogério,
Um texto é sempre enriquecido pelo leitor, ou não. A tua pergunta enriquece o texto, pois pensa a possibilidade duma melodia e, só essa ideia/sugestão, enriquece a leitura!
Gostaria de confirmar a existência duma melodia mas, as melodias que faço são em geral feitas apenas assobiando, falha-me o domínio dum instrumento musical que me permitisse dominar a escrita duma melodia. Em boa verdade, creio sempre haverá uma melodia a “iluminar” a imaginação que se entrega ao ritmo que diferencia a escrita quando a conduz em versos. Esta crença, tenho de a deixar como crença, por falta de argumentos técnicos para a escrita da música em forma musical. Agradeço a possibilidade de pensar, partindo da tua sugestão.
A_braços!!
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