Imagem de Hugo Martins |
Às margens desse rio asfixiado,
habitado pela merda expelida das casas
e o ácido excedente das indústrias,
homens pararam por um instante –
testemunharam seus reflexos no espelho
antes de seguir viagem; outros
velaram toda uma noite atrás de um peixe.
Nessas águas espessas,
violentadas pelo óleo das auto-estradas,
oprimidas pelo caldo dos bueiros,
mulheres lavaram a roupa e as mágoas;
outras se aliaram ao corpo do rio
para ajudar as flores a resistirem ao inverno
e os tomates a se rebelarem contra a seca.
Às margens desse rio viciado,
picado pela agulha dos hospitais,
assaltado pela indigestão dos restaurantes,
meninos caçaram animais que por ali se aventuravam,
ou simplesmente ficaram ao vento –
que não tinha o cheiro senão do campo que percorria.
do livro Comerciais de Metralhadora
10 comentários:
De prima! arrojado e belo!
Acho que já tinha lido esse e se li foi um prazer ler de novo. Beleza, Nolli! beijo
Acho que já tinha lido esse e se li foi um prazer ler de novo. Beleza, Nolli! beijo
Mais um golpe bem aplicado contra... e a favor!
Brasil!
é um morrer omisso
por entre os dejetos do tempo
e dos vivos
mais mortos
que a merda
navegante
e inerte
nessa imundice do ser
sem pudor,
nem vergonha.
Beijo meu.
Muito interessante. Gostei.
Os rios da infância... esgoto de todos nós. Esse belo poema me remeteu com angústia aos rios da minha cidade. Abraço.
É muitíssimo triste...
E fato!
texto muito bom, meu camarada! Eis, o que fazemos dos rios e nem sequer lembramos que outras águas rolaram deixando pra trás tanta história... o rio é o mesmo e não é mais, assim, como nós, não o somos; pisados e repisados pelos acontecimentos cotidianos. Somos também esse rio!
realidade
brutal
bj
ana
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