1
Senhor, cantá-lo exige prudência.
Senhor, não: Jesus! Prudência...
Mulheres tremem ao imaginá-lo
e homens se contorcem de medo –
se enfurecem por ti. Por ti são
capazes de tudo, com fúria.
Não os quero diante de minha casa,
ou sobre mim, com suas tochas.
Prudência para não despertá-los,
ajoelhados na primeira fila –
bebendo a palavra suja de kolynos,
encharcada de vinho barato.
2
Estavam equivocados sobre a sua palavra.
Sequer leram os livros. Ouviram
de um profissional, ingênuo do latim:
um animal diante do arado
sendo chicoteado por outro animal:
numa estrada reta, sem cruzamentos.
3
E que não fosse por outro animal.
A palavra em si já trás o equívoco:
abades que excederam no vinho e
se distraíram com ilustrações proibidas;
poetas pequenos, insignificantes,
maus tradutores a serviço do estado.
Para cada povo a palavra tem um peso.
Cada uma, sua carga – nada nos diz algumas:
estão na boca diariamente, já sem sabor,
como chiclete repetidamente mastigado.
Algumas não entendemos.
Outras nossa compreensão estraga.
Estão feridas, cobertas de pus,
muitas sequer foram germinadas.
O equívoco (talvez!) resida no fato de
nenhuma ter saído de sua boca.
Gritam, na rua, em seu nome,
algumas que você sequer conheceu.
4
Quando criança, seu nome pichado no muro –
em neon reluzente, gritando na face das igrejas.
Quando criança, sua marca no quadro-negro,
em adesivos no vidro traseiro dos carros.
Quando criança, sua palavra no rádio,
no pára-choque de pesados caminhões.
Quando criança, sua imagem no quadro:
no quarto de minha avó, um pouco vesgo.
Lembrava um dos generais de Hitler
ou um modelo das propagandas de cigarro.
5
Um homem melhor do que eu,
maior que todos nós juntos.
(O que não é grande coisa,
nem fato de extraordinária façanha)
Um homem, ouso dizer. Apenas isso.
Prudência, o poema exige. E me calo.
* do livro "Novos Poemas"
6 comentários:
Um lindo Natal pra vc e toda a sua família!
Beijos Natalinos pra Ti
Com emoção. (E contenção?)
Bom Jesus pra você e os seus!
HP
Nolli, como sempre vc explode com seus versos fortes, intensos, mágicos, e repletos de poesia.
beijo
Nolli,
belo poema! De fato, é essa a prudência que devemos buscar ao falar não só de Jesus, mas de qualquer tema!
Já falei muito também sobre religião no meu blog de literatura, "O livro está na mesa". Recomendo a você especialmente o post: http://olivroestanamesa.blogspot.com/2010/06/tributo-saramago.html
Trata-se de uma reflexão minha que dediquei a memória do libertário Saramago, crítico ácido da Igreja Católica.
Outros posts igualmente interessantes são aqueles que entralaçam a política e o clero, como:
http://olivroestanamesa.blogspot.com/2010/10/em-busca-da-salvacao.html
http://olivroestanamesa.blogspot.com/2010/10/vortices-entre-o-livro-cruz-e-espada.html
Carpe diem!
PS: Se você quiser, Nolli, e caso tenha o livro "Novos Poemas" em formato digital, posso colocá-lo a disposição dos meus leitores no meu blog, "O livro está na mesa".
Feliz Natal!
mas isso é uma verdadeira ODE !
show, Nolli...mais um dos seus !
abraço e feliz natal !
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