sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Baudelaire, Bécquer e o amor...






















Gustavo Adolfo Bécquer (Espanha, 1936 - 1970)

LXXIV (de Rimas)



Las ropas desceñidas,
desnudas las espadas,
en el dintel de oro de la puerta
dos ángeles velaban.

Me aproximé a los hierros
que defienden la entrada,
y de las dobles rejas en el fondo
la vi confusa y blanca.

La vi como la imagen
que en un ensueño pasa,
como un rayo de luz tenue y difuso
que entre tinieblas nada.

Me sentí de un ardiente
deseo llena el alma;
¡como atrae un abismo, aquel misterio
hacía si me arrastraba!

Mas, ¡ay!, que de los ángeles
parecían decirme las miradas:
"¡El umbral de esta puerta
sólo Dios lo traspasa!"



LXXIV


As íntimas caídas,
nudez pelas espaldas;
ali, d’ouro o dintel que a porta prende,
dois anjos a velavam.

Me aproximei dos ferros
que defendem a entrada,
dentre as dobradas grades, bem no fundo
a vi confusa e branca.

A vi como uma imagem
que em leve sono passa,
como um raio de luz tênue e difuso
que entre tênebras nada.

Me senti de um ardente
desejo plena a alma;
a atrair um abismo, o tal mistério
como que me arrastava.

Mas, ai!, aqueles anjos,
pareciam dizer-me
suas miradas - O umbral desta porta
a Deus somente passa.





















Charles Baudelaire (França, 1821 - 1867)

La prière d’un païen


Ah ! ne ralentis pas tes flammes ;
Réchauffe mon coeur engourdi,
Volupté, torture des âmes !
Diva ! supplicem exaudi !

Déesse dans l'air répandue,
Flamme dans notre souterrain !
Exauce une âme morfondue,
Qui te consacre un chant d'airain.

Volupté, sois toujours ma reine !
Prends le masque d'une sirène
Faite de chair et de velours,

Ou verse-moi tes sommeils lourds
Dans le vin informe et mystique,
Volupté, fantôme élastique !



A prece de um pagão


Não te deixes as chamas calmas!
Ao fogo, o meu torpe caqui!
Volúpia, tortura das almas!
Diva! suppplicem exaudi!


Deusa nos ares convertida,
Flama que é de nossa tez, agra,
Cumpre n’alma de frio vida,
Canto de bronze te consagra!

Volúpia, sê minha rainha!
Mascara-te em sereiazinha
Com o corpo de carne e veludo,

Ou verte-me teu sono mudo
Em vinho de monge e chiclete,
Volúpia, fantasma que flete!

(Traduções de Henrique Pimenta)

9 comentários:

João Luis Calliari Poesias disse...

Volúpia, tortura das almas...dá-lhe Baudelaire!

Evandro L. Mezadri disse...

Gostei muito, principalmente de Baudelaire, o qual tenho muita admiração, é uma das minhas principais refêrencias.
Belo blog.
Grande abraço, sucesso, feliz 2011!

LadyArt disse...

...die begegnung mit baudelaire war ein guter auftakt für das neue jahr.
alles gute. mit baudelaire als lehrmeister werden die gedichte an form und reinheit nur gewinnen....

gabriele

Bessa disse...

Que sejam versões, traduções ou transversões, seu trabalho está perfeito, Henrique, dentro do estilo de cada autor. Meus aplausos. Nada melhor para se começar o ano!

Forte abraço,
André

Unknown disse...

Mestre!

Que honra para mim, vê-lo aqui Baudelaire em traje de gala.

"Deusa nos ares convertida,
Flama que é de nossa tez, agra,
Cumpre n’alma de frio vida,
Canto de bronze te consagra!"

MARAVILHOSO!

Aplausos!

Beijos!

Mirze

byTONHO disse...



Deu
bode
ao ler...

Béééé!
quer o amor!

mArMAvilha!

:)

L. Rafael Nolli disse...

Um belo trabalho, Henrique!

Joe_Brazuca disse...

"traduzir" (versar, con_versar)Baudelaire é façanha árdua, que voce o fez com maestria !

feliz 20!!

Adriana Godoy disse...

Pimenta, vc é foda mesmo! No bom sentido...beijo