Para o Poeta Abílio Pacheco
Para contrafazer as rubricas desses dias de pavor:
soberbas vertigens e longes asfaltos metálicos
hão de brotar das ostras e buganvílias chorosas.
Outras raízes de cristais e gentes
soltarão bafos estereotipados
e ferirão céus.
Fêmeas genitálias hão de vislumbrar cemitérios
e, na contramão da lauda,
manterão relações sexuais
com os beatos ferrolhos das esquinas
― mas aos olhos de somenos cadáveres
outros sorrisos romperão a corrosão de partir.
Ai! Sob noites tristes e calorentas
feios jardins de enchentes ainda carnívoras
não terão nenhum medo
e nem eles afligir-se-ão com o pecado deposto
das nossas bocas desusadas e fétidas;
não terão agonia
e nem eles irritar-se-ão com o escarro broxa
que molha rostos e manufatura lágrimas.
No rosto, a cópula dos dédalos do doce envenenado.
No olhar, os aspergidos termicamente pelas narinas de grelos em espetos
― mas esses teimam e teimam em ser comparados
com as cinesioterapias em prantos,
e sentem dores de bambos apetites.
Ai! Não lembro o que tenha morrido em mim,
mas o que está morrendo no abscesso do silêncio,
o que está sangrando por maldade
nas débeis sarjetas das falações desmerecidas,
o que está gerando fomedez turva e denodada,
o que a símile fumaça
está roubando dos cigarros rejeitados,
toca-me como quem toca
a flor que se inclina ante a excomunhão.
Com o soluço aprendi
que engravidar o asfalto, é vida de viver.
E as unhas cravadas,
ainda que com êxtases atropelados,
são como as tímidas alvoradas
dos palavrões recolhidos.
― Sim! O sol ainda vive,
as lágrimas não mais...
Pululam desvairadas pelo infinito adentrante...
Animam o enviuvar da solidão...
Masturbam curvas.
Lavoura de miragens? Sim!
Fi-lo com a melhor das entrelinhas.
― Aqui me fiz observatório em rolo,
mas fi-lo sem pensar.
Twitter: BennycFranklin
Fotografia: ID-48
Autor: José António
tomtitop@gmail.com
2 comentários:
Retenho as últimas palavras, deixo-as rolar... Um prazer luxuriante, um bucho de pequenas folhas, enfeitado como se fosse árvore de Natal! Tua Poesia tem o gozo das luzes intermitentes, dos enfeites de palavras douradas, choca em imagens trocadas quando nos olha com olhos na nuca. Nunca a vejo a dormir, isso me agrada e acorda esta admiração à qual, por vezes, garantidamente todos os messes, dou corda. Abraços.
Estou a saborear este poema como se saboreia um cigarro, uma sobremesa saborosa e misteriosa de bom chocolate. Parabéns. Está aprimorada pela descrição e questão/exclamaçao bem presentes.
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