domingo, 24 de outubro de 2010

Ruas da cidade


Atravesso a Rua do Desespero

como um relâmpago corta a carne da noite.


Cirúrgico, venço a Rua do Cansaço

com um golpe de canivete.


(Esperança é uma via

onde o coletivo não circula.)


Deságuo na Rua da Fadiga

onde ninguém transita –

sexo caro fumando cigarro vagabundo,

menina sem horizonte bicicleta morro à cima.


(Conversa de compadres, sobre o gado,

[fascistas não esclarecidos]

impedindo o livre caminhar pelas calçadas.)


O único poeta digno de nota

escreveu no muro: “Rebelem-se,

seus vermes!”, e escapou da polícia

pela Rua Sem Nome.


do livro Comerciais de Metralhadora

12 comentários:

Isaias de Faria disse...

REBELEMOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

BAR DO BARDO disse...

Bel(l)a execução!

Lunna Guedes disse...

É sempre bom rebelar-se.

Márcia Maia disse...

bravíssimo, poeta!
1beijo daqui.

Tenório disse...

Que poemaço! Perfeita escolha das palavras. Eu encontro uma outra forma de rima, que não é a das palavras exatas, mas a das imagens contextualizadas.

Muito bom, poeta!

flaviooffer disse...

muito bom trabalho, Nolli.

Linda Graal disse...

delícia o corte! ;)
beijinho

TON disse...

Versos que escancaram as ruas, os guetos, abordam os marginais. Há poetas que iluminam onde já há luz. Seus versos miram a escuridão. Parabéns!

VERA PINHEIRO disse...

Nolli, poetaço, cada vez - e sempre - melhor. Agudo, profundo, desinquietando as acomodações.
Abraço de parabéns.

Hercília Fernandes disse...

Sempre enriquecedor ler os seus poemas, Rafael.
Este é especial: as vozes dos sem nomes, dos silenciados e excluídos, gritam em seus versos.
Bravo, poeta!
Abraço,
H.F.

Barone disse...

Porrada, como sempre.

Adriana Godoy disse...

Demais, Nolli. Beijo