Eu nem me lembro dos sons
das velhas canções de ninar.
Nem da lã ou do linho a me cobrir.
Lembro do longo corredor escuro
e dos choros, dos medos, dos segredos
que eu nunca descobri.
Eu sonhava com um carro conversível
cheio de doces e chicletes no porta luvas.
Lembro das freiras, das brincadeiras de quintal,
da manga com sal, das missas e das viúvas
cheirando a mistério e naftalina.
Eu ainda era menina quando flutuava
sem asas na ginástica ritmica e lúdica:
mas papai disse que eu não podia mais!
Meus ais começaram aí.
Botei peitos e papai ensaiava morrer.
Mamãe sempre aos pés...
do fogão, da pia e de papai.
Deus me livre! Me pus a estudar.
Crescer dói, muitas vezes, mas como evitar?
Vieram graças e desgraças como sempre há
e agora é um tempo outro, novo como qualquer.
Não quero um presente de retalhos rotos.
Memórias, sim... mas sem melancolia.
Tomo emprestada a alegria dos meus garotos,
vivo as benesses e glórias da idade que tenho
senão, para que tão longe venho na arte de viver?
Se é pra viver só de fantasia,
pra que serve tanta realidade?
4 comentários:
Quero, almejo descobrir, prá que tanta realidade? Perfeito!
bjs
Muito bom poema!
A carapuça serviu aqui, já que vivo num Teatro da Vida. Tá difícil de encarar o real.
Beijo.
Valeu, pessoal. Obrigada por compartilhar poesia e realidade. Hehehehe.
Lírica, beleza de poema! Destaco a estrofe final!
Abraços!
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