sábado, 4 de setembro de 2010

ESPUMAS DE EMBRIAGUE

Fitografia by Sidclay Dias

"Celebro a mim mesmo e canto a mim mesmo"
(Walt Whitman)


I - Mais que submissas galas
são nádegas de óvnis âmbares
− gêneses das frescas hortelãs recém-colhidas −
são corrupções de altares fêmeos
com fragrâncias e urros de lavanda
pós sexo.

No poema: o veludo da palavra
e as abelhas de fino corrimento
tecem tráfegos nas bainhas,
retalham becos de mim
e decifram Fênix.

II - Diante dos recados do vento
corações de quatro ou cinco homens feridos no front
e não satisfeitos com os mofos tácitos das fugas
vergam suas virgindades quase ao chão

― Apesar do cachimbo da aurora
desentupir seus soluços e seus relâmpagos frios,
em caso de empate, haver-se-á por eleito a foice mais idosa
quando atrair para si o cansaço e desnudar o escuro
(o desagravo ao rosário)
teimando em não se livrar deste poema
irreverente e irrequieto

― Apesar dos hímens das espumas de embriague
impor redemoinhos a qualquer banzeiro cru,
suas flores não haverão de ser como um perfume
que sacode o corpo suicida,
e por que não o soluço?

― Apesar do estrume da palavra em oração
impor limites e redefinir suas escamas,
o húmus de qualquer alimento nu
não haverá de ser como o tropeço da alma
que dia a dia protesta contra o que geme,
e por que não contra o silêncio?

― Apesar do relâmpago da lavra elétrica
impor à força estômagos vazios aos mendigos de Belém
haver-se-á o pára-brisa do olfato
de aromar-me com o sabor do medo
para livrar-me das trôpegas bolhas ignorantes,
as que velam o penúltimo verbo que gela,
e por que não os crespos dos cabelos?

III - Com retesada arrogância
roça-se a primavera mocoronga
na palavra que extasia

― Esta ente-dor
em parto de belemita gravidez.

IV - Obedeço aos gozos dos penhascos espetaculosos
que nem sempre testificam
a cascata que falha...

Mas (oh!)
Casar-me-ei com o vazio
ainda que eu veja adiante um palmo,
a fome da expiação.

Mas (oh!)
Sou eu o que inodora a curva.
E ao criar o gume amarelecido
gloriar-me-ei nos porosos filamentos da fraqueza,
se assim for a vontade da partida.

Mas (oh!)
Para onde me ausentarei
do meu segredo?
Para onde escaparei
da minha fossa?

Mas (oh!)
Com este grito manco
tento compartilhar meus fenóis
com outras cavalgaduras.

© Benny Franklin
Twitter: BennycFranklin

2 comentários:

Francisco Coimbra disse...

Um poema que demora a ler, até o ver amarelecer, até procurar as cores, usar filtros? O processo de revelação, também é uma arte! Partindo donde se parte, o poema: o todo e a parte, fica com os meus parabéns ao poeta. Abraços

L. Rafael Nolli disse...

Uma pedreira, mas quando se vê no meio dela é impossível abandonar - o caminho difícil vai nos seduzindo, seduzindo e pronto. Benny, tem estilo!