segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Retalhos no porão


Van Gogh



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................Seu nome será memorizado

..........................0 canto insano condecorado

..........................por violinos e violões equidistantes



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................Sua dor medida será brava e desmedida

..........................a voz palatina

..........................efervescida pela hábil dançarina de cabaré



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................Sua orelha, finalmente, será remendada

..........................a aquarela transfigurada

..........................à moda visionária de um artista rubro



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................O funeral corteja a galope

..........................o viajante anteviu a primeira pá

..........................resta, enfim, costurar:

.........................(gente maldita e famigerada)

.........................- os velhos retalhos no porão!...



Esperemos, pois, um novo século!


10 comentários:

Hercília Fernandes disse...

Caros amigos do Poema Dia,

o poema "Retalhos no porão" foi escrito há mais de um ano. Hoje revisitando meus textos senti vontade de repostá-lo.

Na ocasião em que o compus estava sensibilizada com o fato de os homens visionários - pintores, poetas, músicos, cientistas... - serem incompreendidos em suas épocas. Isso ocorreu com Van Gogh, Mozart e uma infinidade de outros.

Essa realidade é algo que se repete, pois enquanto vemos uma vastidão de talentos [incompreendidos] pelo mundo, vemos se alastrar os ditames de uma indústria cultural que se privilegia da ausência de informação dos que não têm ou quase não dispõem de acessibilidade.

Humana que sou, por vezes revolta-me a velocidade com que se constrói determinadas coisas. Coisas que se diluem na mesma proporção para dar lugar a mais e mais produtos fumaças...

Penso que há de se lutar pelo sentido da criação, por aquilo que é eterno à condição humana e refletir os significados do discurso do dito popular (carnaval mal chegou e quanto de lixo não já se proliferou?).

Respeito à arte, ao cotidiano, à sabedoria popular, à diversidade, à cultura, não é sinônimo de restringir possibilidades, tampouco bombardear as mentes e os corpos humanos com arte descartável.

Mas sejamos otimistas e esperemos, pois, um novo século!...

Saudações poéticas,
H.F.


P.S.: Peço perdão a todos e todas que integram o "Poema Dia" por minha ausência dos últimos dias. Andei tão ocupada no final do ano que não pude manter o meu compromisso com este espaço que tanto admiro pela soma de bons autores, portanto de literariedade, que o compõe.
Minha postagem veio atrasada porque confudi a data, peço desculpa a todos pelo lapso (estava mesmo achando que dia 24 era hoje: segunda).

Hercília Fernandes disse...

Corrigindo...

"confundi"

Renata de Aragão Lopes disse...

Hercília,

que belo depoimento!
Compartilho de sua revolta!

A velocidade
com que, hoje,
espalham-se
"produtos fumaças",
em detrimento da arte,
é assustadora.

Como teremos de esperar
"um novo século",
talvez só nos reste,
em verdade,
olhar para trás

- à exceção de nomes atuais
injustamente desconhecidos
cuja rica produção artística
passa quase despercebida...

Um abraço, querida!

Joe_Brazuca disse...

li em seu texto uma prece...
então, que seja : AMÉM !

as artes de verdade ( ou que pode-se chamar de...) estão trancadas no sotão, Hercília...o que se vê na sala de visitas, à baila, é uma "sub-coisa-nenhuma"...Lastimável, no mínimo...

(uma dica, querida correligionária do "Poemadia", já que notei que por vezes se confunde em sua data, não leve a mal, claro, eu não me importo, sinta-se a vontade no dia 25 sempre que precisar, o que importa é que nossas linhas sejam publicadas, né mesmo ?...rs...Mas voltando à dica : vc deve ter percebido que existe a possibilidade de programar-se antecipadamente para nossas postagens, o que facilita muito nosso compromisso !. Em qualquer data, independente do "nosso dia", voce pode faze-lo previamente, e no seu dia e hora programados, seu trabalho será postado automaticamente !)

um beijo

Joe

L. Rafael Nolli disse...

Gostei muito, Hercília. Olha que bacana: o Tenório, no dia 15, publicou aqui também um poema que me pareceu dialogar muito bem com esse! Ambos levantam questões próximas sobre a arte e o leitor futuro! Abraços!

Unknown disse...

Hercília!

Esse poema será sempre atual. Van Gogh foi eternizado por você. Não importa o tempo, a obra fica. Assim como a sua ficará.

Belíssimo!

Beijos

Mirse

Hercília Fernandes disse...

*Renata,

muito lhe agradeço as suas considerações, bela e querida poetisa!

*Joe,

feliz que tenha apreciado o texto. Muito obrigada por suas palavras e demais coisas.

Irei conhecer mais como funciona o sistema de programação de postagens. As vezes que eu tentei usar esse recurso no Maria Clara: simples mente poesia não deu certo, sempre saía antes do programado.

Costumo prezar pelos compromissos assumidos e as duas vezes que eu não pude corresponder às expectativas do espaço se deram por razões além das minhas possibilidades. Somente esta foi por confusão de data.

Mas aceito com brandura a sua orientação e novamente peço-lhes desculpas pelo transtorno, não mais se repetirá.

*Rafael,

eu amei seu poema da casa. Simplesmente poesia! Obrigada pela sugestão de leitura, irei ler o texto do Tenório.

*Mirse, amiga de todas as horas, grata por sua visita ao Poema Dia. Feliz com a sua leitura e palavras expressas.

Forte abraço em todos e todas,
H.F.

Deliane Leite disse...

Olá Hercília Fernandes,

Prazer me chamo Deliane. Sou poeta, professora, artista... Uma pessoa que quer revirar a vontade de ser. Com uma visão que às vezes se perde, mas tenta se encontrar com seus pares poetas... Obrigada pela sua mente criadora artística.
Evoé a todos os que nos precederam!!!

Te convido a conhecer meu blog... Amei o Poesia do Dia!!! Já me agreguei... Espero receber uma visitinha de todos vcs! Saudações poéticas do cerrado!!!
Beijos

Vai um poema de minha autoria pra dialogar um pouco com o teu!!!

O anúncio é lixo
A "certeza-anúncio" é lixo
elevado ao quadrado
Constituem seres que não
sentem ao tocar
Abaixo da pele real existe
a segunda obra
O verdadeiro ser que
se alegra e se recente,
que coça a pele até sangrar
Para se ver caleidoscópio
Pulsante
Vociferar alucinante
Sua jornada
Imprecisa
E segurar o instante em que
se vê um mero artesão das palavras.

Deliane Leite

O Neto do Herculano disse...

Poema
muito
bem
construído.

A poesia
agradece.

Hercília Fernandes disse...

*Valdeci,

agradecemos a sua visita e convite. Volte sempre!

*Deliane,

suas palavras me encantaram. Lindo poema você nos traz, visitarei seu espaço poético com muito gosto. Prazer em conhecê-la!

*HNeto,

agradeço a sua visita e palavras expressas.

Um forte abraço em todos e todas,
H.F.