quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SURREALISMO COM FECHO ÉCLAIR!



I

Quantos mais haverão de excitar-me
impondo-me caminhos a crer, e como ouvirão,
se não há quem duvide?
Quantos burburinhos e azedos diluir-se-ão na fantasia
em pétalas banais de orquídeas comuns?
Quem há de saciar salientes alimentos,
desnudadas palavras
— surrealismo com fecho éclair —
e rasas penetrações
deslizando sobre o meu mênstruo?

II

Haverão mais primaveras!
— Eu sei.
Haverão outras expiações...
Esfriarei meu sangue
e fabricarei rendez-vous de vento,
cuja valentia surgirá de dispares âmagos:
ermos calafrios, náuseas fecundas
e gélidas vagem de cara.

III

Sob o pé do cinzeiro da consciência,
recordo os amigos.
lembro-os de todos,
ora olvidados, ora redivivos.
Tressinto-os
e sinto e canto
em saudade... Saudade!
Música, única,
desperdiçada em fronts e perdas
haja vista gozá-la
a lembrar-me do velho violão puído,
asas dos fios da emoção.

IV

Desfolharei as páginas elétricas
do livro da minha vida.
Reprisarei o replay
da minha verde juventude...
Humilde...Sincera!
Tateação dos meus soberbos olhos
para que o papel lacrime pedante
e jugule a mão esquerda,
porque trêmula, nervosa,
e grafe-me uma nova verdade.

V

Só e desprovido de ouro,
sobra-me o papel azul da maçã;
a madrugada jaza saltitante
e faz surgir à idéia alguns poemas cheios de medo
embevecidos pela lembrança d’outrora...
Ai... dos meus olhos duas lágrimas
pulam sobre os meus pés
sugerindo-me afluir
uma nova piração...
Afloração... Decerto os meus poemas
encharcam-se de zelo,
malbaratam fétidos sonhos abafados
e rebolam a nostalgia dos velhos benjaminzeiros
— nada mais!

© Benny Franklin

10 comentários:

Francisco Coimbra disse...

«Sob o pé do cinzeiro da consciência», um pouco de cinza de palavras soltas duma leitura onde arde vida, fantasia, surrealismo... Abraços.

Heyk disse...

Benny,

eu gostei, e achei interessante a coisa de não ter certeza sobre o sexo de quem escreveu durante as idas e vindas do poema.

achei interessante umas série de ditos ao nível do conteúdo, a coisa sobre o aprendizado e amizade e o sexo

e achei interessante que o poema não está ao patamar do sonoro, ou rítmico, ou visual, mas embala com o vocabulário o que vem dizer.

minha bira, que é uma birra vela é a de usar adjetivo antes do substantivo, que como ninguém fala, fico meio desconfortável com esse formalismo literário quando vejo.

É isso. Valeu.

Barone disse...

Show de bola Benny.

Sidnei Olivio disse...

Sempre um show esse poesia única. Abraços.

Benny Franklin disse...

Agradeço.
Agradeço a todos os meus amigos deste maravilhoso projeto cultural, que com seus comentarios certeiros (neste parco poema) ajudam a construir um formato de poesia: mais verdadeira e mais humana que o normal.
Obrigado!

L. Rafael Nolli disse...

Certeiro como sempre.

Adriana Godoy disse...

Tiro certeiro. Foi no alvo! Bj

Joe_Brazuca disse...


psico-
grafado

cabe-se a ouvir outro

fado...

eis o "nosso" Benny !

bond+ !

Assis de Mello disse...

O Benny é mestre. Beat, algo de maldito no estilo, mas sempre bennygno. Sou fã de carteirinha...

Audemir Leuzinger disse...

o que dizer?
comento atrasado, mas não menos admirado da beleza dos versos.
abraço grande!