quinta-feira, 1 de outubro de 2009
neste silêncio ( dans ce silence)
o que fizeste do lírio
que cobria, à luz, no cardo
a estátua mutilada?
em que buraco assenta
o vivo dos espinhos?
no meu corpo crivam-se caminhos
sem árvores ao sol
de um rol de pensamentos,
escassos são meus mantimentos...
não sei de qualquer mãe, mar,
pai, ar, filho ou navio
não sei em que direcção dispara a estrada
neste silêncio pio de revólveres.
*
qu’as tu fait de la fleur de lys
qui dissimulait, à la lumière, dans le jardin
la statue mutilée?
dans quel vide plonge,
le vif de ses épines ?
dans mon corps s’emboîtent des chemins
sans arbres au soleil
d’ une myriade de pensées,
infimes sont mes subsistances…
je ne connais aucune mère, mer
père, air, fils ou navire,
je ne sais pas dans quelle direction pointe la route,
dans ce silence dévot de revolvers.
Maria Gomes
Tradução de Fernando Oliveira ( revisão de Amélia Pais)
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9 comentários:
Em silêncio devoro as palavras. Em silêncio admiro o que dizem
um beijo
silêncio...
Nossa, que poema interessante! É rico em sugestões e tem um desfecho e tanto! Gostei!
em que buraco assenta
o vivo dos espinhos?
no meu corpo crivam-se caminhos
sem árvores ao sol
Esse poema é belíssimo, Maria. E esse final é estupendo.
Vai pra minha pasta de especialíssimos. ;))
Um beijo grande daqui.
Que Silêncio...
... air, fils ou naivre"
Sem mais palavras...
Quando a partida é inevitável, que se faça logo uma assepsia total! Despojar-se de si (dor e prazer) até ao limite do essencial. Abraços!!!
a tradução ficou ótima
mas a tua alma com acento português (e angolano) é intraduzível
mais um texto para a luz
Tão perfeito, tão simples, tão profundo.
Belo poema Maria.
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