segunda-feira, 17 de agosto de 2009

canções de despedida


I


quando retornarem-me
as mãos
— as minhas mãos —
plantarei uma muda
de roseira
ou de jasmim
limparei o pó
dos móveis antigos
acenderei as velas
e farei com capricho
o jantar
só não te poderei
abraçar
amando-te o corpo
que me abrasa
pois partiste
antes mesmo que
com dedos emprestados
das estrelas
eu terminasse de
escrever
este poema


II


o jantar estava posto
a mesa enfeitada
mas em silêncio
invadiu o quarto
com pressa
a pressa dos desesperados
arrumou uma poucas peças na mala
e partiu
nem ao menos lavou as mãos
não deixou bilhete
como fazem os suicidas
não deixou pistas
como fazem os assassinos
mas deixou um vazio
um poema por escrever
uma canção de despedida
que não se canta
que não foi escrita
mas cortou com navalha os olhos
e o fio de vida que restava


III


não deixam bilhetes
os suicidas
partem apenas
voam leves
pássaros tristes
antes que amanheça

antes que
novamente
se ponha a mesa



Márcia Maia & Flávio Machado

6 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Trist'intenso... e parte...

Anônimo disse...

afe, márcia:
muito forte!

cristinasiqueira disse...

Oi,

Pungente,se fez escrita&tempo num alinhavo de tristeza .
Belíssimo,tocante.
Márcia e Flávio,os convido a visitar o blog www.cristinasiqueira.blogspot.com
Com admiralção,

Cris

Adriana Godoy disse...

Bonito, triste, comovente. Um belo poema.

Renata de Aragão Lopes disse...

Emudeci

- belíssimo!

Flavio Machado disse...

Oi Parceirinha aproveitei o mote e coloquei uma outra parceria no Poema dia. Olha cada vez mais me convenço que a gente tem que publicar esse livro em parceria, está mais do que na hora.

bjs
Flávio