dizer-te o quanto é duro estar assim
(se tudo em quanto crera se desfaz)
se o tu que em ti eu via era em mim:
que verei mais?
dizer-te o quão difícil foi ouvir-te
se em tudo o que dizias — por demás —
buscava o tu que eu via destruir-me:
que ouvirei mais?
dizer-te que eu — então — mal entendia
a ira que alterava a tua voz
e a treva que teu negro olhar vertia
por sobre nós.
dizer-te que — talvez — entenda agora
(embora tu te percas em bemóis)
evitas-me a resposta e peroras
falseando a voz.
dizer-te que é assim — neste momento —
(clareiam-se os motivos por detrás?)
não peças que me esquive ao sentimento
de não ser mais.
e deixa que esta dor se espraie e fique
um tempo impreciso dentro em mim
amor que vem faz outro ir a pique:
diz-se então fim.
não sei dizer-te — hoje! — o que virá
(pois disso se encarrega o amanhã)
qual tu dos teus em mim firmar-se-á
noutra manhã?
portanto não estranhes se eu sumir,
(de todo bem-querer eu me ausentar)
se um tempo há de ser e um de partir:
por que ficar?
dizer-te: guarda tudo o que tivemos
(talvez bem te compraza tê-lo ainda)
um pouco há do tanto que nos demos
que não se finda.
e segue adiante e cuida — sê feliz.
prossegue o teu caminho a céu aberto.
se um gesto te lembrar quanto eu te quis
: estarei perto.
Márcia Maia
26 comentários:
BRILHANTE, do começo ao fim. O que dizer da "crise de verso", quando se lê versos assim? Bj.
"qual tu dos teus em mim firmar-se-á
noutra manhã?"
Importantíssima questão.
Belíssimo poema, Márcia: muito bem construído do primeiro ao último versos.
Seu fã de sempre deixa um beijo
Um poema de amor peculiaríssimo.
Como numa conversa imaginária, numa cadência sutil e perfeita, vais delineando a trama amorosa e o desenlace.
Parabéns, Márcia!
Ricardo Mainieri
dizer-te eu que é assim - o encanto cala-me e os olhos sorriem
seria por demasia vago?...
rsrsrs
Lindas palavras
Muito lindas
Um belo poema parceirinha, belo sem dúvida
bjs
Flávio
Maravilhosa, sempre, sempre!... Minha adorável amiga poeta! Parabéns!!!
Beijos e abraços com poesia,
Antonio Carlos
Belo!
Belíssimo. Poema para pelo menos 100 talheres.
Beijos
Márcia
Você sempre se superando muito além das expectativas.É até uma indecência escrever tão bem assim.
Belíssimo.
Beijo
Marcinha, pode musicar??????
aprendendo, aprendendo sempre...
Obrigada, Márcia!
maria
Linda! ...e lindo poema!
Parece que há um movimento coletivo de despedidas. E o poeta sempre expressa. É isso que mais admiro em sua poesia: sempre de encontro ao coletivo.
beijos muitos!
Belíssimo poema, como sempre:)
Beijos
"qual tu dos teus em mim firmar-se-á noutra manhã?"
*Muito inquietante, isso!!
**Sem falar na cadência do poema todo. Lindo!
Ah!
alguma coisa a ver com "crônica de uma morte anunciada"?!
Marcinha! Este é um poemaço, deste que calam a gente pela beleza plástica e literária!
Que bom te saber em tão boa companhia! O blog inteiro é uma pérola rara!
Beijos querida.
Belíssimo poema Márcia.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Já te disse desse poema. Ele ainda me descostura a alma. Um beijo para ti
Gosto, gosto!
Um beijo ,
Silvia
"se um tempo há de ser e um de partir:
por que ficar?"
Belíssimo poema, Márcia!
Digno de releituras...
um jogo bem jogado...
Creio que era Fernão Mendes Pinto que dizia tratar a palavra como a ursa lambia os filhos... Eis o exemplo renascido, Márcia.
E que pena eu tenho que o tempo não dê para tudo. Mas em boa hora chegou o teu aviso. Dei o tempo por bem empregue.
Rimar sem cedências e com mestria. Porque haveríamos de ter alguma coisa contra a rima?
Excelente!
Beijos.
Uma das coisas mais lindas que li nos últimos tempos.
Ótimo! Excelente!
Márcia,
concordo ple na mente com as palavras do nosso poetíssimo Fred Mattos: o seu poema é belíssimo do princípio ao fim.
Parabéns, um grande texto!
Beijos :)
H.F.
oi márcia, adorei a crônica/poesia... ou seria a poesia/crônica... estarei por perto... beijão carinhoso do amigo josealoisebahiabhzmg...
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