terça-feira, 12 de maio de 2009






Se do Nada...

Se os Medievais criam que o Mundo era a manifestação da bondade Divina que transborda da mente de Deus – intuição pura de toda possibilidade – por que toda possibilidade não pode nascer da vibração de supercordas, ou por que não podem surgir bolhas de espaço-tempo que criam universos bebês?

Estrada do nada ao nada. Kamikazes segurando bombas. Fundamentalismo saudoso do antes do tempo, que era atemporal e não antes, antes pressupõe sucessão. O nada como útero potencial da brincadeira-jogo de estar aí, aqui, acolá.

Saltamos? Não, nesse jogo chamado Mundo somos jogados. Incertos, fundamentamos bombas, construímos banquinhos-crenças que nos apoiam como um sentido prático-teórico, jamais ser e desmanchar-se no absoluto.

Desejamos o sol, mas sua luz nos cega. Carcomemos dedos, ossos, estandartes, flores, passatempos, dos que irão deixar de passar.

Trocamos de máscaras como quem combina sapatos.

Contradizemos a nós mesmos suspendendo a lógica.

Quebramos nossos banquinhos-crenças instituindo nosso próprio desamparo.

Trazemos incrustado no corpomente a vontade de potência de vir-a-ser Deus. Sem jamais sermos, apenas homo sapiens, finitos, rodando no Carrossel da existência.

Mas flertamos com o infinito, enquanto choramos pelo arranhão no carro novo.

Tudo deveria se apequenar diante do Mistério. Mas o pequeno engloba sua própria transcendência.

Flutuamos, finalmente, varejeiras-borboletas. Errantes, claudicantes, sonhando com ordem, vivendo um caos-ordem, ilusionismo alentador de cavalos. Unguento da possibilidade de pastar, viver e criar conceitos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Olá, meu nome é Lucas Silva, sou acadêmico do curso de Filosofia pela UFPel e frequento o blog. Mas,os Medievais não criam mais nada. Embora que a sua idéia esteja correta.
Abraço

Sergio Kroeff Canarim disse...

Oi Lucas, não sei se ficou claro, mas o meu criam no caso vém do verbo crer conjugado no Pretérito Imperfeito na terceira pessoa do plural, poderia ser também creram conjugado no pretérito perfeito pra facilitar, mas quis usar o jogo crer e criar, além do que o verbo no imperfeito me parece mais a ver com a idéia do poema.
abraço

L. Rafael Nolli disse...

Olá, Sérgio. Muito bom o teu texto. Em resumo posso dizer que é altamente instigante, pois é rico em propostas! Destaco a parte nietsszchiana da vontade de potência. Muito bom.

Sergio Kroeff Canarim disse...

Obrigado Rafael, primeiro por ter lido e segundo se dado ao trabalho de digerir algo assim tão difícil que é nossa condição humana e nossa relação com esse estar no mundo, com esse ser e estar e possuir (parcialmente, incompletamente) a realidade, como podemos ver não houveram muitos outros corajosos para deixar aqui impressões.
Grande abraço

Adriana Godoy disse...

Poema instigante que joga com ideias e palavras e faz repensar. Tem hora que precisamos disso. Bravo.

Sidnei Olivio disse...

Flertando com infinito do poema. Grande Sérgio.

Anônimo disse...

Explicado.Lucas D. Silva

Benny Franklin disse...

Valeu, pelo instigante texto!