quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O velho e o moço, um monólogo

Isto é real!
Por que não seria real?
Já é realidade,
já é mundo,
já estão as coisas junto a ti,
e os nossos a respirar no berço do teu nascimento.

Ora, que dizes, não vê o velho Aleph em todo lugar?
E cada folha flutuanterepouzo de outono ou
por um menino ranhento arrancada da ordem natural.

Não percebes desde já a grande alegria da tragicomédia de estar aí sempre
jogadoesbarrandotocandodesvelandoarranhandovendointuindosentindorepresentando
o enorme circo absoluto

Quê perguntas? Sobre o amor?
O indeterminado abstrato
que dá sentido
a tudo aquilo que é
já por si só
seu próprio sentido,
mas as pessoas querem mais!

Se eu posso me dar ao luxo de ser velho e não saber?
Mas é claro,
só os jovens sabem demais,
por saberem mais ou menos.
Geralmente muito menos do que imaginam saber.

Então, tu duvidas?
Ah, muito mais interessante és, meu caro jovem,
sábio por nascença da intuição da finitude de tudo aquilo que é.
Entenda que duvidar é um exercício que não pode inibir teus olhos
de ver tudo aquilo que já está sempre ao teu lado,
junto a teu jovem, tenro corpomente.

Ahaha, achas que sou apenas um velho tolo,
voltas a ser criança.
Não há, todavia, maior preocupação,
seremos um dia um só,
relvamarestrelasterraar,
até o sumidouro do que é.
O nada ser potencial,
como uma onda infinita de potência e bondade ambiciosa,
trará outras coisas que se chamarão relva
ou qualquer cousa.

Vai-te jovem,
vive e goza o esplendor.
Saiba apenas estar na presença das coisas que duvidas que existam
por desconhecer-lhes completude,
ao mesmo tempo, que toma-lhes a existência como dada.
Neste transbordar da consciência
consciente de sua essencial transcendência,
já finita,
não engole o mundo,
muito menos apreende o circo absoluto,
embora, desde sempre estejas intuindo a potência que o perfaz
e a teu corpo transpassa em punhaladas de angustiabsoluto.

7 comentários:

Adriana Godoy disse...

"Entenda que duvidar é um exercício que não pode inibir teus olhos
de ver tudo aquilo que já está sempre ao teu lado,"

Um poema magnífico sobre a vida.

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Vá sempre no caminho da curiosidade
mesmo que já estejas cansado, mas vá....
Excelente poema sobre o fazer, a construção de uma vida.
ab

Beatriz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Beatriz disse...

Entre o jovem e o velho, um trem de palavras avançando, transpassa, transfere e ouros trans.

Felipe Costa Marques disse...

Que poema surreal! Adorei!

Me lembra algo sobre um veloz disco infinito no pluriverso de Borges. rsrs!

Abraços

Anônimo disse...

A maior beleza da idade é que o pensar faz o sentido decrescente do viver...
A alma tem idades multiplas e assim levamos a vida pelas regras de três...
Viver é uma caminho pulverizado de versos representados sabiamente na beleza do saber expressar...

Sergio Kroeff Canarim disse...

Bom ver as diferentes formas que o poema exerce a afecção da alma. Cada homo sapiens, uma perspectiva das mesmas palavras.
O importante é que ele penetre nestas mentes, e traga algum conforto, alguma identificação, inspire uma ação, ou pensamento, ou sentimento, ou uma açãopensamentosetimento.
Agradeço a acolhida dos novos amigos na minha primeira postagem.
Grande abraço, a criação é o único alento do finito homem.