tantos desistem ou se perdem
nessa fuga alucinada
sós e vazios quase ignoram
esse cenário cinza e ocre
permeado de vergonha verde
e de animas reais ou não
que deslumbram-se com o bordão:
“não há lugar melhor que nossa casa”
arritmias pedem
mais que um cigarro
uma carreira
ou uma dose intravenosa
de colapso nervoso
almejam a overdose do medo
e na escuridão da toca do coelho
ecoam vozes febris em alucinação:
“não há lugar melhor que nossa casa”
os pés cheios de bolhas
tocam-se sufocados
dentro de calçados vermelhos
pisam em compassos curtos
na ânsia de voltar à inocência
perdidos na cidade de concreto e pó
entre ascensão e queda sobre tijolos
da estrada amarela, repetem a canção:
“não há lugar melhor que nossa casa”
perdi meu lar e meu sapato de cristal
não confio mais nos homens de lata,
nos covardes, nem nos feitos de palha
sou real, mas represento em mim
Alice, Cinderela e Dorothy
pintadas numa pequena aquarela
em tons entre o azul e o carmim
e com elas sigo em fuga e digo:
“qualquer lugar, menos em minha casa”
18 comentários:
"Qualquer lugar menos a minha casa" Não poderia me identificar mais com qualquer outra coisa...
Oi,
Felizcidades!
"Abra qualquer casa"
Grata aos que comentaram!
É lindo, Larissa. Será que precisava entregar as personagens no último verso? Fico me perguntando.
Gostei.
Entre o azul e o carmim qualquer lugar: uns dias em minha casa, outros dias lugar nenhum, hoje é fuga c0om sapato alto, amanhã chegamos descalças, exaustas mas, sempre musas.
Larissa adorei, a gente só entrega aquilo que a gente quer, esse é o barato da poesia, escrevemos aquilo que queremos, sem nos preocupar com regras, não somos contistas, presos na pontuação, somos poetas livres, livres das convenções das chatices e das caretices do dia comum, o seu sapato vermelho veio cheio de alegria e os personagens viera sorrindo ao final, achei sensacional, Cinderela urbana de mãos dadas com Judy Garland dentro da mesma casa.
Beijo cheio de letras pra vc.
poeiras Cinderelas de Alices estradas no país das maravilhas amarelas, não tem paredes...Só sonhos sem casa nenhuma e nem tijolos...muito menos lá...o retorno é cadafalso...todo (des)cuidado é um pouco menos...
Muito bom, Poetisa !
abs
Gostei do poema Larissa. Forte.
Larissa, como sempre, acima da média! Muito bom!
Nossa, fazia tempo que não recebia tanto!
Fico mal acostumada, assim!
Lugares existem, mesmo longínquos de nós...Bárbaro
fiquei com a sensação que esse texto convida à viagem ao limite entre o eu e o outro. depois de lê-lo diversas vezes, é possível. ele me pareceu propositalmente confuso. e se foi isso mesmo, é belo.
beijão
Rogerio
há
lugar?
nem sempre...
nem tanto...
nem menos do que isso!
gostei do que lugar
que a poesia
aportou
aqui
nesse peito...
evoé!
Das representações que há em mim, sou um vago pestanejar dos olhos de Alice...
Sendo assim, qualquer lugar é minha casa, pois, sou um notívago a perambular por aí!
Bela Poesia, Larissa!
O que é a "estrada de tijolos amarelos"? É uma viagem ao desconhecido (como Alice na toca do coelho, daí a propriedade da analogia), mas com esperança: a esperança de voltar pra casa. Por isso eu usaria outro título, mas o poema é belo assim mesmo. Parabéns!
lindo demais.
adoro o trabalho com arquetipos.
e o ultimo verso foi preparado durante todo o poema. que impacto.
cala fundo.
parabens, mesmo!
Daniel, acho que não entendeu!
O "eu kírico" finaliza o poema dizendo: "Qualquer lugar, menos a minha casa!"
O poema tem tudo, menos esperança de volta!
Mas valeu o comentário!
Leia de novo, quem sabe!
Rogério, a vertigem é proposital sim! É uma fuga!
Mais uma vez, agradeço a todos que comentaram!
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