Em
meu segundo livro, Elefante, publicado em 2013, escrevi uma série de poemas,
todos girando em torno do mesmo tema: a possibilidade do homem permanecer na Terra, extrapolando as limitações de sua breve existência.
Em
cada poema especulo sobre uma possibilidade de permanência. Por exemplo, há um
poema sobre o homem que permanece por causa de sua fama (sobrevive ao tempo o seu
nome e a sua obra); há um poema sobre aquele que permanece mumificado (as
crianças incas, as múmias egípcias); há um poema sobre o homem que permaneceu
criogenado e que foi encontrado nas montanhas por um grupo de alpinistas,
etc e etc...
Um
poema em particular me veio a mente um dia desses. Trata-se de um poema sobre
os homens de Pompeii, Herculaneum e
Stabiæ,
que permaneceram, após a morte,
petrificados pela lava do vulcão Vesúvio. Hoje resolvi inserir na obra os
homens que permanecem – após a morte – soterrados em Brumadinho e Mariana.
No dia que a catástrofe ocorreu – esse crime monstruoso
perpetrado pela Vale – me ocorreu uma relação próxima entre esses casos.
Segue o poema, atualizado:
2 –
Cemitério de pedras
b) Pompeii,
Herculaneum, Stabiæ, Brumadinho e Mariana
Lá no alto, o
albatroz se mantêm imóvel no ar
Echoes, Pink Floyd
Estão guardados
por Hēphaistos [Ήφαιστος]
ou O Coisa,
do
Quarteto Fantástico
Onde a terra
vomitou as entranhas [Dispepsia aguda]
expondo sua
congestão [rochas ígneas extrusivas]
(todo bicarbonato
do mundo [NaHCO3]
não
aplacaria a sua fúria)
São milhares de homens
eternizados pelo
magma [Vesúvio]
ou pela lama [Vale]
estranhas
crisálidas de rocha [fluxos piroclásticos]
entregues à
excursões turísticas
– numerosas &
ruidosas –
e seus milhares de
olhos digitais
Onde talvez (pouco
se sabe) em outras
camadas
se escondam outros
fósseis – [Mammuthus
lamarmoræ]
vítimas de
semelhante cataclismo [Kατακλυσμός]
em outro Æon [Farenozóico]
Guardados, como em
uma maldição,
sob a pena de
possuírem um sono leve
debaixo de pálpebras de pedra
.