terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Tristezza!


Sobram palavras quando há pouco a dizer
Talvez a loucura coubesse na roupa que deixei no cabide
Ou nem houvesse razão para sair de mim
O mundo multicolorido desfocado pela lente da insanidade
O tempo, escusado de mim, vadia...
Vadia como os últimos boêmios
Que saem pelas ruas, exaustos de viver
Vadiam nas ruas da Penha, Vila Madalena ou qualquer canto deste mundo
Em um quarto carcomido...
Sim, sou um destes que tentam atravessar o país
Num piscar de olhos
Talvez uma necessidade de fugir de mim
Ou de me encontrar em qualquer esquina
Onde os loucos se encontram.
Eis que chego à porta da Casa Verde
Recebendo a chave da Cidade das Rosas
Como honra ao mérito de outrem.
Sou assim, usurpador do trono,
Tenho a coroa e a coragem,
Sob o braço o chapéu... nas mãos?
Delírios feitos de confetes e serpentinas
À espera de outros carnavais
Onde os corpos se encontrem
Suados, purpurinados, débeis.

Sim, espero a euforia que vem do claustro,
A lobotomia, o choque elétrico, a surra, o coice...
Espero o veneno destilado nos cálices sagrados,
O corpo sangrando sobre a pedra.
Espero o que não é para se esperar,
O desespero, a sofreguidão,
E, espero sempre na mais tola calmaria
Aquilo que não há de vir.

7 comentários:

Carol Mioni disse...

Eu me vi num saral agora, imaginei um homem declamando com os olhos num horizonte inexistente dentro de uma sala velha. Muito bom!

Angela disse...

texto forte,gosto deste estilo!
e a Tristezza ficou mais inquietante assim..

Unknown disse...

Texto sufocante, inquietude plena e forte... muuito forte marcado de solidao e tristeza...

Lírica disse...

Flávio, vc passa muita coisa em sua poesia. Coisas muito fortes, com perfume confessional... é bem marcante a sensação de não ter um lugar para a própria subjetividade... e de se sentir dissociado, despersonalizado, o que é bem transposto para as expressões relacionadas a limites ou lugar. Gostei das antíteses, especialmente a que há entre coroa e chapéu.
Neste texto há elementos psicanalíticos muito ricos e surpreendentemente ordenados.
Intrigante.

rogerio santos disse...

belo texto...abraços

célia musilli disse...

Flávio,

Taí um poema tristemente belo!! Um beijo!

Marcia PoeTree disse...

"Talvez a loucura coubesse na roupa que deixei no cabide" É por essas e outras que eu AMO POESIA!!!