terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

exú

você é um dos que abrem os livros
e mostra a linha perfeitamente escrita do destino
ou do atalho para o riso frouxo
mostrou-me como apesar de sucessivos
poderiam ser baixos os muros
cão negro que me conduziu protegendo
anjo da guarda como qualquer outro
graças a você estou sempre com os tolos e insensatos
com todo meu coração
falo com as populações do deserto
chamo cada chuva pelo nome
desenho símbolos invisíveis com as mãos
recito o que tenho sob a pele
e batizo toda linha reta de eclipse
simpático que sou aos Judas de um Sábado de Aleluia

sem dar notícia meu sangue vira sereno
diferente do orvalho
e nunca ordinária água
aprendemos a caminhar juntos

temos planos para os tolos de primeira viagem
os marinheiros de segunda
os vencedores de terceira e todos que nasceram às quintas-feiras
com bissextas aparições
somos os guardas dos nossos irmãos
guardaríamos Caim e Abel como se Cosme e Damião fossem
mostrando o caminho do meio na encruzilhada vazia
nas linhas que se cruzam
equilibro numa balança meu coração e uma pluma
você diz como os alquimistas:
para os galhos de uma árvore tocarem os céus
suas raízes devem alcançar o inferno

caminhando com você
sempre de branco
com um lenço vermelho no bolso
com Nosso Senhor Jesus Cristo
deixando para trás o túmulo do útero
para alcançar o útero do túmulo
nossos passos ecoarão na Ladeira da Montanha
até encontrarmos o Ancião dos Dias

8 comentários:

Adriana Godoy disse...

Um poema bem construído na escolha de palavras e idéias.Especialmente: "mostrou-me como apesar de sucessivos
poderiam ser baixos os muros
cão negro que me conduziu protegendo
anjo da guarda como qualquer outro".

Benny Franklin disse...

Como sempre muito bom!

Hugo Langone disse...

leuzinger, meu caro. tenho gostado das tuas experiências místicas. precisamos conversar.

Beatriz disse...

Gostei do tema, excelente alerta pra aspectos do elo entre os deuses e os homens. Equilíbrio entre o bem e o mal. Laroiê, Esu.
O poema pra mim tem jeitão de prsa. O que não tira a beleza.

Anônimo disse...

sensacional !
seu sincretismo faz a visão da vida, aqui, poética!

Além mais.

L. Rafael Nolli disse...

Nossa, muito bonito mesmo!

Anônimo disse...

Incrível meu amigo!

Meus parabens e SUCESSO...

Beijos.

Barone disse...

Grande Audemir. Muito bom o poema.

"graças a você estou sempre com os tolos e insensatos
com todo meu coração
falo com as populações do deserto
chamo cada chuva pelo nome
desenho símbolos invisíveis com as mãos
recito o que tenho sob a pele
e batizo toda linha reta de eclipse
simpático que sou aos Judas de um Sábado de Aleluia"