quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

prosa quando arboriza é poetisa...

um broto de idéia nasceu ali entre a axila e o seio esquerdo
aquele corpo branco arborizou-se sem alvoroço
arvoreou-se!


as sombras vultuosamente estenderam-se pelas calçadas
adornaram pedras
rabiscaram desenhos minerais


o corpo destravou-se da pele-casca
fez crescer uma dúvida acima das sombras
incerta, nem curvilínea, nem mesmo reta
a dúvida se alojou em um galho na altura do umbigo
ali ficara
como coisa irrigada
amparada por uma colônia de microseres
dispostos a decompor todas as certezas
uma a uma / dia a dia

em diálogos íntimos com o vento
a descortinar um balé cromático
as folhas dançaram em queda enigmática
resistiram como se pássaros fossem e nesse adejar
sussurraram poesias sobre a transitoriedade das coisas

e quando tudo virou
galhos folhas seiva síntese


nas costas
por toda ela
em um dia de fevereiro


nasceram flores amarelas
a tergiversar verões enamorados por primaveras


sem que ninguém se desse conta

a não ser os encantados e aqueles descontados que ninguém conta
aquilo que um dia foi idéia semente
que brotou
que arborizou-se
infloresceu
virou fruta
ganhou luz singular
a cor vermelha:


deram-lhe o nome abreviado de prosa
a mais pro-saborosa prosa




fernando cisco zappa
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13 comentários:

d'Angelo Rodrigues disse...

Sombras que adornam pedras, diálogos íntimos com o vento, flores amarelas a tergiversar verões enamorados por primaveras: um poema saboroso e de luz singular. Bravo, Fernando.

Márcia Maia disse...

que maravilha! que maravilha!

Victor Meira disse...

É lindo e terrível. A certa altura me lembra a progressão d'um câncer, a formar galhos de veias e culminar no vermelho-sangue. Tudo dito com tanta festa e beleza que faz desacreditar em qualquer coisa ruim.

É terrível (no melhor sentido possível).

Anônimo disse...

Lindo, meu caro! Muito lindo!

rogerio santos disse...

Bem legal essa viagem do Cisco...
Valeu Mestre !

Beatriz disse...

E a poesia quando fertiliza é rizoma
Raíz aérea, asas de terra na cor o poema tomba da árvore e fertiliza a palvra.
viajei nos galhos

L. Rafael Nolli disse...

Um poema que se desenvolve muito bem, mantendo um fluxo interessante de imagens.

Barone disse...

Maravilhoso!!

Alice Salles disse...

Poesia é pra ser o que é, e essa é um fino exemplo do que essa maravilha vem a ser...

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Espetacular! Onde as folhas andam existe poesia e em você as folhas tem seiva, tem poesia!
Espetacular!

Mariana Botelho disse...

sensação de déjà vu.
mas um déjà vu poético muito muito bom.

tagg disse...

do caralho. gostei mesmo.

Joe_Brazuca disse...

...uma escultura de Buonarroti !...vc é "o poeta", Zappa !