segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A estrada dos tijolos amarelos

tantos desistem ou se perdem
nessa fuga alucinada
sós e vazios quase ignoram
esse cenário cinza e ocre
permeado de vergonha verde
e de animas reais ou não
que deslumbram-se com o bordão:
“não há lugar melhor que nossa casa”

arritmias pedem
mais que um cigarro
uma carreira
ou uma dose intravenosa
de colapso nervoso
almejam a overdose do medo
e na escuridão da toca do coelho
ecoam vozes febris em alucinação:
“não há lugar melhor que nossa casa”

os pés cheios de bolhas
tocam-se sufocados
dentro de calçados vermelhos
pisam em compassos curtos
na ânsia de voltar à inocência
perdidos na cidade de concreto e pó
entre ascensão e queda sobre tijolos
da estrada amarela, repetem a canção:
“não há lugar melhor que nossa casa”

perdi meu lar e meu sapato de cristal
não confio mais nos homens de lata,
nos covardes, nem nos feitos de palha
sou real, mas represento em mim
Alice, Cinderela e Dorothy
pintadas numa pequena aquarela
em tons entre o azul e o carmim
e com elas sigo em fuga e digo:
“qualquer lugar, menos em minha casa”

18 comentários:

Alice Salles disse...

"Qualquer lugar menos a minha casa" Não poderia me identificar mais com qualquer outra coisa...

Felipe Costa Marques disse...

Oi,
Felizcidades!
"Abra qualquer casa"

Larissa Marques - LM@rq disse...

Grata aos que comentaram!

Victor Meira disse...

É lindo, Larissa. Será que precisava entregar as personagens no último verso? Fico me perguntando.

Gostei.

Beatriz disse...

Entre o azul e o carmim qualquer lugar: uns dias em minha casa, outros dias lugar nenhum, hoje é fuga c0om sapato alto, amanhã chegamos descalças, exaustas mas, sempre musas.

Fábio Terra disse...

Larissa adorei, a gente só entrega aquilo que a gente quer, esse é o barato da poesia, escrevemos aquilo que queremos, sem nos preocupar com regras, não somos contistas, presos na pontuação, somos poetas livres, livres das convenções das chatices e das caretices do dia comum, o seu sapato vermelho veio cheio de alegria e os personagens viera sorrindo ao final, achei sensacional, Cinderela urbana de mãos dadas com Judy Garland dentro da mesma casa.

Beijo cheio de letras pra vc.

Joe_Brazuca disse...

poeiras Cinderelas de Alices estradas no país das maravilhas amarelas, não tem paredes...Só sonhos sem casa nenhuma e nem tijolos...muito menos lá...o retorno é cadafalso...todo (des)cuidado é um pouco menos...
Muito bom, Poetisa !
abs

Barone disse...

Gostei do poema Larissa. Forte.

L. Rafael Nolli disse...

Larissa, como sempre, acima da média! Muito bom!

Larissa Marques - LM@rq disse...

Nossa, fazia tempo que não recebia tanto!
Fico mal acostumada, assim!

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Lugares existem, mesmo longínquos de nós...Bárbaro

rogerio santos disse...

fiquei com a sensação que esse texto convida à viagem ao limite entre o eu e o outro. depois de lê-lo diversas vezes, é possível. ele me pareceu propositalmente confuso. e se foi isso mesmo, é belo.

beijão
Rogerio

cisc o z appa disse...


lugar?

nem sempre...
nem tanto...
nem menos do que isso!

gostei do que lugar
que a poesia
aportou
aqui
nesse peito...

evoé!

flaviooffer disse...

Das representações que há em mim, sou um vago pestanejar dos olhos de Alice...
Sendo assim, qualquer lugar é minha casa, pois, sou um notívago a perambular por aí!

Bela Poesia, Larissa!

Daniel Moutinho disse...

O que é a "estrada de tijolos amarelos"? É uma viagem ao desconhecido (como Alice na toca do coelho, daí a propriedade da analogia), mas com esperança: a esperança de voltar pra casa. Por isso eu usaria outro título, mas o poema é belo assim mesmo. Parabéns!

Audemir Leuzinger disse...

lindo demais.
adoro o trabalho com arquetipos.
e o ultimo verso foi preparado durante todo o poema. que impacto.
cala fundo.
parabens, mesmo!

Larissa Marques - LM@rq disse...

Daniel, acho que não entendeu!
O "eu kírico" finaliza o poema dizendo: "Qualquer lugar, menos a minha casa!"
O poema tem tudo, menos esperança de volta!
Mas valeu o comentário!
Leia de novo, quem sabe!

Larissa Marques - LM@rq disse...

Rogério, a vertigem é proposital sim! É uma fuga!
Mais uma vez, agradeço a todos que comentaram!