Balada homicida
É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.
É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
e de caixinhas de Malrboro.
É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.
É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.
*
11 comentários:
fantastico poema. tocando tantas questoes universais ao mesmo tempo.
um ritmo que nao sentimos ao ve-lo pela primeira vez, mas assombrosamente presente na leitura que fiz em voz alta.
abs
Sensacional.
Sem para larvas...
Nossa! Esse poema foi uma facada no coração. Incrível. Adorei.
Puta que Pariu !!!
Poemaço !!!
Desses que dá gosto de ler e reler.
A força da poesia vai muito além das palavras.
Abraços
Rogerio Sants
uma pequena ode à liberdade, humanismo e vida.
Perfeito, simplesmente !
é preciso matar a morte toda a vida
É preciso matar alguma coisa para renascer em outra.
Bravíssimo! Bravíssimo!
um dos melhores poemas que li nestes últimos tempos!
Os meus parabéns!
maria
PRECISAMOS NOS MATAR TODOS OS DIAS PARA NASCER COM VEIAS FORTES
E HAJA SANGUE!
PARABENS
ANO FELIZ PRA TODOS!
Cintia Thome
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